Estavam casados já a mais de doze anos, Jamile, entretanto não via muitos motivos para comemorar suas “bodas de seda”, uma vez que o marido a muito tempo a atrás deixara de trata-la de modo semelhante a isso, muito pelo contrario pensava em escrever no bolo “Bodas de aspargos” ou mesmo que parecendo um tanto exagerado quem sabe “bodas porra nenhuma!”. O que se passava é que Jaime já não era o mesmo de antes, se tornara uma copia mal feita dos seus astros de filmes e seriados valentões e nojentos que ele assistia em seus típicos domingos regados à cerveja e a idolatria das velhas fitas VHS no vídeo empoeirado.
Contudo já estava tudo arranjado e sendo tarde demais para voltar atrás, e além do más o que pensariam dela no hospital onde era agora a diretora, não podia! O que lhe restava era torcer para o velho porco se portar bem desta vez. Além do mais havia encomendado um lindo bolo da melhor confeiteira da cidade, e não via a hora de ouvir os elogios do pessoal do hospital:
- Deus, como este bolo é divino Jamile, você que fez? Sem querer incomodar, se sobrar um pouquinho, posso levar um ou doze pedaços para casa? Aliás seu vestido esta deslumbrante! – Estava excitada seria uma delicia ouvir tantos elogios!
Os convidados chegavam aos pares, em pequenos grupos, e até jurou ter visto um ônibus de excursão parado em sua porta. A casa estava cheia e ainda não havia visto seu marido, o que a esta altura já lhe causava calafrios. Decidiu ir então ao porão para apanhar mais algumas garrafas de vinho e talvez tirar alguns minutos para um cigarro. Desceu as escadas ouvindo alguns sussurros e risos e logo se apressou pensando sabe lá o que o marido havia aprontado:
- Jaime, minha santa mãe! Que sena grotesca é essa?
O marido se via de pé em torno de uma mesa de Poker, onde cavalheiros e digamos algumas “damas” engoliam seus sorrisos amarelos ao ver a dona do bordel improvisado.
- Minha querida! Em primeiro lugar sua mãe não é nada santa, você mesma pode ver, a velha esta escondida aqui em baixo da mesa e por sinal estava “me arrancando as calças”, é uma jogadora excelente essa minha velha sogra!- falou o infeliz erguendo parte da toalha da mesa e mostrando uma senhora com fichas e uma guimba de cigarro nas mãos.
- De fato ela levou mesmo até suas calças Jaime!- Retrucou segurando o choro.
- Bom, sei que estou sem as calças mais também convidei o pessoal a se juntar a mim em um jantar formal em calças ou encontrara algum restaurante excêntrico que nos acolhesse! Mais não, eles insistiram em continuar aqui, inclusive sua mãe acrescentou que é difícil encontrar um bom vinho na cidade, e como estávamos ao lado da adega...
- Calado seu porco! Já não aguento mais esse casamento, quero o divorcio! Você não conversa mais comigo, não me espera quando chego do trabalho, eu já não tenho tempo para nada, o trabalho me suga... E agora isso?!- Rosnava aos prantos apontando o dedo na cara do tal ( ainda com as calças arriadas)
- O que posso dizer? Quem mandou você estudar? Dá nisso! Eu por exemplo me viro bem jogando cartas e sendo marido de mulher rica!
-Dane-se seu filho da puta! Você eraaaa marido de mulher rica! Vou pegar algum vinho, subir, e cortar o bolo para os convidados, e você mamãe, vista esse safado e subam os dois para as comemorações, amanha tratamos da separação!
- Querida, um minutinho.- Disse Jaime finalmente colocando as ceroulas de volta.- Podemos adiar esse divórcio para o mês que vem, é que bem... Eu meio que contraí uma leve divida com sua mãe e a velha tem os juros um tanto salgados...
Jamile subiu com a garrafa de vinho tranquilamente e foi ter com seus convidados, e alguns minutos depois cortava o bolo quando sua mãe discretamente sussurrou:
- Minha filha, não quero me meter na sua vida conjugal, más, eu não acho de bom grado amarrar e amordaçar seu marido na adega em plena comemoração de suas bodas.
- Chega mamãe, amanhã de manhã conversamos sobre isso! Agora vou servir o meu bolo.
- Tudo bem, e enquanto conversamos que tal irmos ao banco e você me pagar aquela dividazinha pendente entre a mamãe e ele.
Infelizmente os elogios a respeito do bolo não tinham mais o gosto esperado.
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