31 de agosto de 2010
Amores no século XXI
Como é lindo o inicio de uma relação! Quando o casal se entrega aos desígnios do coração. As mãozinhas ficam sempre dadas, e as conversas são recheadas de frases criativas e palavras no diminutivo. Contudo, antes de um futuro romance em potencial, tais recursos não são ainda empregados. Muito pelo contrário, o envolvimento e os primeiros olhares mais parecem um projeto secreto, cujos espiões, o casal em questão, fingem uma aproximação amiga, quando na verdade o objetivo real é a conquista total e absoluta daquela pessoa. Cuidado!
Mas hoje em dia, este universo encantador anda bem menos burocrático; e nos deparamos com situações onde um olhar já bastaria para pular todos os estágios de uma paquera. Inclusive a parte amistosa das mãos dadas. Certa vez, num ônibus estava um casal de estudantes que acabara de se conhecer. A moça tinha cabelos castanhos, lisos e tratados, trajava calça social e camisa aparentemente de marca, com botões de meia polegada que brilhavam no escuro. O rapaz, impecavelmente trajado com uma calça, originária da Segunda Guerra Mundial, camisa de novela das 7 boliviana e boné invertido, com riscos de giz acima da aba, que é pra dar aquele toque mágico. Então, aconteceu algo assim:
_ E ai mina? – ele interage com a vitima, digo, com a moça.
_ Oi.
_ Meu, você é linda!
_ Obrigada.
_ Sério mesmo. Pô, tipo assim, tava vendo você, e ai, nossa mano!
_ O que você faz? – ela muito tímida.
_ Eu? Ah, meu, eu faço filosofia. Eu gosto dessas paradas.
_ Mesmo? Tá em que ano da faculdade?
_ Começando hoje. Eu fazia Pedagogia, e ai tranquei ano passado. Ano retrasado tranquei Matemática. E é nóis.
_ Que legal! Você fez tudo isso?
_ Pois é, porque o barato é curtir a vida, e, saca? Curtir, e viver a vida, saca? Porque a vida, é um grande, sei lá, barato! – ai ele já dá aquele olhar.
_ Verdade.
_ Posso dizer uma coisa?
_ Pode.
_ Meu, você é linda!
_ ...
E resumindo a coisa toda, em poucos minutos rolou algo que eu não consegui “sacar”. Também convenhamos, o rapaz foi praticamente um filósofo do amor. Embora haja uma outra investida eficaz, rápida como relâmpago e supostamente subliminar:
_ E ai mina? Tipo assim, a nível de, tem jeito?
Em 10 segundos a paquera acontece, e em 5 termina o romance.
Agora, claro que nem tudo é tão dinâmico e moderno. Ainda surgem as grandes histórias. E infelizmente também ocorrem as grandes separações. Rompimentos tão marcantes que obrigam os corações partidos a se desfazerem daqueles mimos, ganhos quando namoravam. E houve um caso, em que um conhecido meu tivera este destino. A relação não andava bem e decidiram se separar. Assim sendo, este amigo, muito orgulhoso, decidiu ir a casa da ex e entregar todos os presentes que havia recebido. Embrulhou os objetos e colocou tudo numa caixa enorme. Ao chegar na casa da moça, a despedida final:
_ Olha, eu vim aqui entregar tudo que você me deu, porque eu não acho certo ficar com tudo isso!
_ Ah, tudo bem então – diz a mulher triste.
_ Então, aqui nesta caixa eu estou devolvendo o tênis importado, as camisas de verão da Noruega, o conjunto de facas da Escandinávia, os livros de auto-ajuda e do Monteiro Lobato, o travesseiro com penas de ganso, o relógio com os ponteiros banhados a ouro, o pingente de prata com o meu nome inscrito em polonês, o boné personalizado com a sua imagem, a impressora que canta, o porta retrato com a foto de sua mãe, a filmadora, canetas, chaveiros do Baby da família dinossauro, o abajur movido a luz solar, dentre outras miudezas. Tudo certo?
_ É, tá.
Ele se vira para sair, mas ela o chama:
_ Espere! Eu também quero devolver tudo que você me deu.
Ela tira a carteira do bolso, abre, e entrega uma foto que tinha dele, amassadinha, mas com aquele sorriso! Típico de um churrasco de domingo.
Que tristeza para a moça! Se desfazer de uma imagem definitivamente não tem preço.
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Conhecendo o espaço, adooro blog´s...é outra maneira de ler a história...Pq podemos ter fragmentos aqui e ali, sem o compromisso da teoria sabe?
ResponderExcluirEstes romances contemporâneos que vc contou são bem a cara da geração coca-cola + malhação...Sorte nossa que a vida passa rápido, viver estas experiências em câmera lenta, seria um saco! Rsrs